quarta-feira, 19 de julho de 2017

Inovação sexual

Muitas vezes, penso em antigamente, em como eram as coisas. Só que as coisas nunca foram só de uma maneira antigamente, houve uma evolução ao longo da história. Surpreende-me bastante que as pessoas estejam tão agarradas ao que as coisas são hoje e pensem que chegámos à cúspide da evolução: vai ficar assim até ao resto do tempo porque não pode ser melhor do que isto. Depois sai um telemóvel novo e a malta larga o velho.

Nas relações humanas também é assim. Imaginem quando as pessoas começaram a escrever cartas pessoais umas às outras. Não acham que muita gente deve ter achado uma grande anormalidade? Devia ser mais confortante enviar uma mensagem por alguém -- um intermediário de confiança --, pois uma carta dava a possibilidade de muitas pessoas lerem o que alguém tinha escrito, enquanto que um intermediário de confiança saberia ficar calado.

Já pensaram em inovação sexual? Houve uma altura em que sexo normal e desejável era um em que a mulher tinha uma camisa com um buraco e o homem penetrava-a pelo buraco da camisa quando lhe apetecia ter sexo. Hoje em dia, ter sexo assim, é capaz de ser visto como violação. Sexo como se tem hoje era uma coisa depravada, reservada para quem era imoral, logo associado a amantes e prostitutas.

O sexo homossexual também evoluiu, por exemplo. Na Grécia Antiga, era normal haver relações homossexuais, especialmente nas camadas mais altas da sociedade, desde que se observasse certos costumes relativos à idade dos intervenientes e ao seu papel na relação. Note-se no entanto, que os costumes de homens maduros se associarem a parceiros muito jovens tanto dava para relações homossexuais como heterossexuais, pois quem era penetrado tomava um lugar passivo e inferior na relação, logo não era uma coisa que ficasse bem num homem maduro. Pelos cânones actuais, o que se fazia na Grécia Antiga era uma coisa parecida com pedofilia.

Por falar em pedofilia, vi o filme francês Ma Loute (2016) este fim-de-semana que passou e é interessante como o tema é lá abordado. Mais não digo porque estrago-vos a surpresa, se decidirem ver o filme. (Ah, se ficam enojados facilmente, preparem-se para umas cenas macabras, mas que não têm a ver com sexo.)

Pois, sexo... Se calhar, o Woddy Allen, no filme Sleeper (1973), tinha razão acerca do futuro que nos espera. Realizou-se um inquérito recentemente e parece que os americanos não têm tanto sexo como tinham antes. Ninguém sabe muito bem a razão, mas achei piada a uma parte do artigo da CNN em que se dá a entender que o que é definido como sexo está a mudar, ou seja, a Internet está a contribuir para uma onda de "inovação sexual" e parece que definir sexo não implica necessariamente incluir penetração.
Herbenick, also an associate professor at Indiana University School of Public Health, added that "we may be having less sex, but I would argue it's better sex. We actually don't know if singles are having 'less sex' since the (survey) never defined sex and doesn't ask about the many kinds of sex play that people engage in (including masturbation, oral sex and sex toy play), especially during hookups. It is possible that singles are having less frequent intercourse but about the same (or more or less) of other kinds of sex, such as oral sex or hand stimulation or sex toy play."

~ CNN, 19/7/2017



2 comentários:

  1. Só uma adenda... na pederastia (relação de um homem de estado social superior - erastes com um de estado inferior - eromenos, geralmente adolescente) a penetração tal como a consideramos hoje raramente acontecia (e não era socialmente bem vista, principalmente por ser associada a uma feminilidade do penetrado; a relação erastes-eromenos era uma relação de poder, e não era sempre considerado que o eromenos fosse o que actualmente consideramos um "homosexual" - era mais como aquilo que em roma veio a ser a relação de patrono-cliente). O que não quer dizer que não ocorresse, claro, e que não existissem formas socialmente aceites de satisfação sexual do erastes.

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