sexta-feira, 28 de abril de 2017

Resumo da semana

Hoje saíram os dados de crescimento do PIB dos EUA para o primeiro trimestre: a economia cresceu a uma taxa anual de 0,7%, o ritmo mais lento dos últimos três anos. Nas componentes do PIB, o consumo cresceu apenas 0,3% por causa de menos vendas de automóveis e menos gastos em custos de aquecimento das casas no inverno. Em contraste, os custos de emprego (compensação pelo trabalho, que inclui salários e benefícios) aumentou 0,8%, o valor mais alto desde o último trimestre de 2007.

As sondagens indicam que há bastante optimismo dos cidadãos relativamente à economia e, no entanto, os dados duros não traduzem esse optimismo em crescimento da economia -- as pessoas ganham mais, mas nem por isso gastam mais. Há quem ache que esta inconsistência é, por um lado, produto do método de ajustamento sazonal usado pelo Commerce Department, pois desde 2000, no primeiro trimestre a economia cresce sempre a uma taxa bastante inferior à dos outros -- em média cresce apenas 1%. Por outro lado, este ano o Inverno foi bastante ameno o que tem implicações em termos de compras de roupa, gastos de energia, etc.

Ontem conversei com uma rapariga que trabalha na área da Construção Civil, em Houston. Tenho notado que há bastantes obras espalhadas pela cidade, logo perguntei-lhe o que é que ela observava na sua empresa. Disse-me que a maior parte da construção é acabamento de projectos já iniciados, mas não há muitas obras novas. O tipo de construção é maioritariamente apartamentos mais luxuosos, porque ela diz que os construtores têm facilidade em arranjar pessoas que paguem $1300/mês por um apartamento T1, logo é um mercado mais lucrativo do que o de construir casas para famílias, até porque um lote de terreno no centro de Houston está bastante caro e os apartamentos permitem diluir o custo do terreno em mais unidades. No resto dos EUA, o mercado imobiliário actual caracteriza-se pelo baixo número de casas disponíveis para venda, o que tem pressionado os preços do imobiliário.

Esta semana também saiu uma notícia relativamente aos bancos locais e regionais onde o número de empréstimos efectuados está em baixa. Estes bancos têm-se afastado de investir em imobiliário comercial e no sector de vendas a retalho, pois o comércio tradicional está em decadência devido ao maior número de compras efectuado pela Internet. Muitas empresas têm também aproveitado o optimismo dos investidores e emitido dívida directamente no mercado de capitais, através de bonds, por exemplo. Quem está bastante interessado em empresas industriais no chamado Rust Belt, a área geográfica que nunca chegou a recuperar da Grande Recessão, são os investidores estrangeiros. Este afastamento dos bancos locais e regionais é um canário na mina, pois estes bancos têm critérios bastante apertados na selecção de empréstimos.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Bonzinhos e Mauzinhos

Estava a ler uma entrevista de Junho do ano passado ao matemático Steven Strogatz, quando me deparei com esta parte, que me fez pensar na onda de populismo que navegamos hoje em dia:

So in fact what was found in later studies, when they examined prisoner’s dilemma in environments where errors occurred with a certain frequency, is that the population tended to evolve to more generous, more like New Testament strategies that will “turn the other cheek.” And would take a certain amount of unprovoked bad behavior by the opponent ... just in order to avoid getting into these sort of vendettas. So you find the evolution of more gradually more and more generous strategies, which I think is interesting that the Old Testament sort of naturally led to the New Testament in the computer tournament — with no one teaching it to do so.

And finally, this is the ultimately disturbing part, is once the world evolves to place where everybody is playing very “Jesus-like” strategies, that opens the door for the [the player who always defects] to come back. Everyone is so nice — and they take advantage of that.

I mean, the one thing that’s really good about “tit for tat” is that … the player who always defects — he can’t make much progress against “tit for tat.” But it can against the very soft, always cooperating strategies. You end up getting into these extremely long cycles going from all defection to “tit for tat” to always cooperate and back to all defection. Which sort of sounds a lot like some stories you might have heard in history. Countries or civilizations getting softer and softer and then they get taken over by the barbarians.


Fonte: Steven Strogatz entrevistado na Business Insider

Floricultura 16



Constantino José Marques de Sampaio e Melo, florista português, ficou para a história graças aos seus arranjos artificiais de pano e papel.

Activismo político

Há um programa de rádio produzido em Dallas, que se chama Think, e que tem sempre entrevistas muito interessantes com pessoas de várias áreas. Eu já vos devia ter falado deste programa várias vezes, pois ouvi várias entrevistas que gostaria de ter partilhado convosco e podem fazer o download do podcast. A de ontem foi a Chelsea Clinton, que pode ter algum interesse, mas o pedaço de informação que ficou na minha cabeça foi quando ela disse que, de acordo com a Emily's List, um grupo de defesa dos direitos das mulheres, desde a eleição de Donald Trump, mais de 10.000 mulheres manifestaram interesse em tornar-se candidatas em eleições; no último ciclo, apenas 900 concorreram.

O nível de activismo político está bastante alto. Já fui a duas marchas e a um evento de um Representante no Congresso que quer concorrer para o lugar de Ted Cruz, no Senado. Tinha planeado ir a uma Town Hall do meu Representante no Congresso, mas acabei por ter um conflito. Neste Sábado teremos o Movimento Povos Clima (Peoples Climate Movement). Há uma lista enorme de movimentos anti-Trump que foram agregados na Wikipédia.

Convidei a minha vizinha JP, que tem 92 anos, para jantar em minha casa na semana passada. Durante a nossa conversa, disse-me que achava extraordinário tanto activismo, que nunca tinha visto nada assim. Fica sempre feliz quando vou a uma marcha. Perguntei-lhe se não tinha sido assim durante os anos 60, com as manifestações anti-guerra, anti-segregação, pró-mulheres, etc. Depois de alguns segundos em silêncio, disse que sim, que estamos como nessa altura.

Ontem no programa de rádio 1A falavam dos protestos estudantis em UC Berkeley de 1964, que reivindicaram a liberdade de expressão no campus. Agora, os protestos em UC Berkeley são por causa de um convite feito a Ann Coulter, que alguns estudantes acham ofensivo. Um dos participantes no debate dizia que Ann Coulter não iria a Berkeley defender nenhum ponto de vista novo, apenas ia dizer o que já tinha dito antes, logo não havia supressão do direito de expressão, até porque Coulter diz o que diz para gerar receita -- é acima de tudo um negócio.

Alguém dizia que os estudantes eram crescidos e não precisavam de ser protegidos; para além disso, parte do sucesso de Ann Coulter era exactamente a atenção que estes estudantes, que a não queriam ouvir, lhe davam -- seria mais eficaz ignorá-la. O outro convidado discordou, pois achou que já tínhamos tentado ignorar estas pessoas e não tinha funcionado; para ele, era preciso ridicularizar quem tem discursos de ódio. (Se leram os livros do Malcolm Gladwell, talvez este argumento não vos seja estranho, pois Gladwell defendeu que a forma mais eficaz para derrotar o Ku Klux Klan foi a sua ridicularização em livros de banda desenhada do Super-Homem.)

Quando fui a casa almoçar, uma outra vizinha veio ter comigo. Disse-me que tinha falado com a JP e esta lhe tinha dito que eu tinha ido à Marcha pela Ciência. Disse-me que devia ter ido, que precisava de se tornar mais activa, talvez fazer voluntariado com o Indivisible Movement. Na próxima vez que eu for, enviar-lhe-ei um convite.

Já ouvi várias pessoas dizer que a Presidência de Trump é, acima de tudo, uma oportunidade para derrotar o discurso de ódio. Nos EUA, há sempre alguém que vê oportunidade onde outros vêem desespero e há sempre alguém disposto a levantar-se e lutar pelo que acredita. Não o fazer é considerado anti-americano.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Uma clivagem

Tal como para a zoologia existe o leão, para o pensamento científico existe o homem. A clivagem entre as ciências e a política nasce precisamente aí. Para a política, não existe o homem, existem os homens, na sua pluralidade.

Fado

terça-feira, 25 de abril de 2017

Walk the walk!

Desde há uns anos para cá, no 25 de Abril, vejo sempre pessoas a queixar-se de que não se devia comemorar o 25 de Abril, mas sim o 25 de Novembro porque foi aí que Portugal voltou a ser verdadeiramente livre. Alguns dizem a ditadura de Esquerda do PREC era muito pior do que a ditadura de Direita. Eu tenho alguma dificuldade com esta lógica porque comemorar o fim de uma coisa má que durou ano e meio e não comemorar o fim de uma coisa má que durou 48 anos parece-me um bocado ridículo. E depois falar comparativamente de ditaduras, cria a ideia que umas são preferíveis a outras, o que não é verdade: são todas más!

Tenho a impressão de que quem se queixa e tinha idade para isso, não fez nada de significativo para contribuir para o fim da ditadura de Esquerda ou da de Direita e vejo que muitas pessoas que criticam comemorar-se o 25 de Abril são também as que criticam que nos manifestemos contra o Trump porque este foi "democraticamente" eleito -- quantos ditadores foram democraticamente eleitos, já agora? E são também as que criticam a Geringonça, mas são incapazes de ir para a rua manifestar-se contra ela.

Eu sou uma grande comodista, mas tenho plena noção de que acima de tudo sou uma privilegiada: tudo o que tenho, alguém lutou para eu o ter, a começar pelas famosas liberdade de expressão e liberdade de me manifestar pacificamente. Por isso, sou perfeitamente capaz de ir para a rua manifestar-me. "If you talk the talk, you better walk the walk", como se diz aqui no meu burgo...

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Milagre dos cravos no Texas

Este ano sofri as passas do Algarve aqui em Houston. O meu craveiro andava com um aspecto um bocado fraquito e receei o pior. Não sei se o problema foram as duas noites, em ocasiões diferentes, em que tivemos temperaturas abaixo de zero, apesar do inverno extraordinariamente ameno deste ano, ou talvez o próprio inverno ameno, ou os meus amigos esquilos que seguem a filosofia pseudo-Palinista de "Dig, baby dig!" no meu jardim, só sei que a minha produção de cravos está com um rendimento bastante abaixo do normal. A modos que pensava que estava lixada este ano, sem um cravinho para o 25 de Abril.

Eis que, hoje de manhã, abro a porta das traseiras e deparo-me com este espectáculo! Não é perfeitinho? Tenho para mim que se deu um milagre dos cravos no Texas e eu estou pronta para a Revolução!

Internacionalização

O novo presidente da European Public Choice Society é português, é meu colega na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho e chama-se Francisco Veiga: http://www.epcs-home.org/president/.

Muitos parabéns.

O fim de uma história

A história é conhecida. A diferença ideológica entre esquerda e direita nasceu com a revolução francesa. Em 1795, o presidente da Convenção determinou que quem fosse a favor do direito de veto do rei se sentasse do lado direito e que quem fosse contra se sentasse do lado esquerdo. Esta distinção ideológica, nascida do acaso, estruturou a vida política nos últimos 200 anos. A política existe porque os homens são diferentes e necessitam de arranjar maneiras de coexistir e de se organizar no meio do caos das suas diferenças. Há muito que essas diferenças deixaram de caber na oposição binária esquerda-direita. Ontem, em França, este facto tornou-se mais evidente para muitos. E, se calhar, esta história tinha de acabar onde começou, em França.

domingo, 23 de abril de 2017

Mau perder?

É assim tão estranho que Mélenchon não consigne o seu voto ao opositor de Le Pen? No seu anti-europeísmo, é com Marine Le Pen que Mélenchon mais pontos em comum tem.

Bem sei que é chato para muita gente de esquerda ver isto. Mas, na verdade, parece razoavelmente óbvio.

Ontem

March for Science, Houston, TX










sexta-feira, 21 de abril de 2017

Um génio compreendido

Ibrahimovic vai abandonar o futebol depois da lesão do último jogo.
É uma pena. Por tudo. Não só pelo jogador que se perde, mas também pela personalidade. Gosto de pessoas arrogantes e convencidas. E este era-o nas doses certas, ou seja, descomunais. Tal como o seu talento.
"One thing is for sure, a World Cup without me is nothing to watch. -- Ibrahimovic, 2013.
"I was asked last summer who was the best, me or (Swedish ladies international) Lotta Schelin. You're kidding with me, right? You're joking with me. Do I have to answer that?They compare with me with the world's best footballers in Europe...with Messi and Ronaldo...and when I get home they compare me with women's football. What the hell, should I feel ashamed to come home?" -- Ibrahimovic, 2013.

“I'd already got the impression that Barcelona was a little like being back at Ajax, it was like being back at school. None of the lads acted like superstars, which was strange. The whole gang – they were like schoolboys. The best footballers in the world stood there with their heads bowed, and I didn't understand any of it. It was ridiculous." -- Ibrahimovic, 2015.
“On that list I would have been number one, two, three, four and five, with due respect to the others. Coming second is like finishing last.” -- Ibrahimovic, 2014, a pretexto de ter sido eleito o segundo melhor desportista sueco de sempre.

Felizes para sempre

Ao ler a peça do Pedro Brás Teixeira no Eco, ocorreu-me ir comparar o novo Programa Nacional de Reformas (PNR) com o anterior. O Pedro acha que o novo programa é bastante vago e eu subscrevo a opinião dele, mas achei que havia lá coisas engraçadas.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Q&U têm razão!


Imagem: daqui; Bill: aqui.

E fez-se luz

Às vezes, falam-nos de um artista a que ainda não prestámos atenção. E vamos ouvir uma ou outra música e achamos que aquilo é esquisito, mas, na verdade, não passa muito disso. Mas, como vai aparecendo muitas vezes nas conversas com amigos, certos amigos, lá vamos insistindo. E, de tantos em tantos meses, lá vamos ouvindo uma canção.
E ao fim já de alguns anos, tudo faz sentido e deixa de ser esquisito. O tipo é original e mesmo bom e não se consegue deixar de o ouvir, como se quiséssemos perceber o que se tem perdido.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

22 anos

Comemora-se hoje o vigésimo-segundo aniversário do atentado à bomba de Oklahoma City. De um dia para o outro, muita gente em Portugal ficou a saber que Oklahoma existia e muitos amigos, quando eu lhes dizia que ia estudar para lá em Agosto de 1995, avisavam-me que era um sítio onde havia atentados bombistas. Atentados bombistas pode haver em qualquer lado. Lembro-me perfeitamente de ver o Telejornal e darem notícias de atentados à bomba em Espanha por causa da ETA, no Reino Unido por causa do IRA, ou seja, cresci a ver notícias de atentados à bomba, para não falar dos sequestros de aviões e outras calamidades não-naturais.

No local do edifício bombeado, ergueu-se um monumento às vítimas que pereceram, às que sobreviveram, e a todas as pessoas que ficaram para sempre transformadas por esta tragédia. O monumento está repleto de símbolos, como os portões do tempo: um com a hora 9:01, um minuto antes da bomba e que representa uma época de inocência da cidade; outro com a hora 9:03, o minuto depois da bomba, que representa não só um mundo transformado, mas também o início da esperança. A "Survivor Tree", um olmo que sobreviveu ao atentado, é outro símbolo, este de esperança e resiliência; no aniversário do atentado, árvores bebé descendentes deste olmo são oferecidas, havendo várias centenas plantadas nos EUA.

Talvez o sítio mais emotivo seja o campo de 168 cadeiras vazias, cada uma inscrita com o nome de alguém que faleceu. As cadeiras mais pequenas são as das crianças, pois no edifício havia um infantário.

April 19, 1995. #weremember #okcnm

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Nota: A árvore mais à direita é a "Survivor Tree"

Que lindo!

Ontem deu-me na telha e fui à J. Crew. Ando a pensar ser como os minimalistas, logo fui comprar mais roupa porque os três armários cheios que tenho são insuficientes para as minhas necessidades. Não é contradição! É que a minha roupa é tipo Energizer bunny e dura, dura... Tenho de fazer uma avaliação e desfazer-me das peças que já não valem a pena -- vou dar a uma loja de caridade.

Ah, mas não era nada disto que eu vos queria dizer. Fui à J. Crew e a montra falava em tecidos portugueses!


Sem apelo nem agravo

O poder tirânico é definido como um poder arbitrário e significava originalmente que o governo não tinha de prestar quaisquer contas. Ainda que seguindo por um caminho diferente, a burocracia chega ao mesmo resultado. Em vez das decisões arbitrárias do tirano, deparamo-nos com procedimentos universais estabelecidos ao acaso, mas contra os quais também não há apelo. Segundo Hannah Arendt, do ponto de vista dos súbditos, a rede de normas em que se encontram presos é muito mais perigosa e mortal do que a simples tirania arbitrária.

País das cavernas

Há uns tempos, estava eu e o meu colega Miguel Portela a analisar uns dados sobre o Mercado de Trabalho em Portugal para perceber melhor a origem das desigualdades salariais entre homens e mulheres, quando nos apercebemos que dentro de alguns sectores sujeitos a contrato colectivo de trabalho, para a mesma categoria profissional, os homens ganhavam mais do que as mulheres. Estranhámos: como era possível que essa desigualdade não violasse o contrato colectivo? Com certeza que nenhum sindicato aceitaria isso. A nossa intuição dizia-nos que os dados tinham de estar errados.

Continua aqui

terça-feira, 18 de abril de 2017

O poder da exclamação!

"Little Un, if you think this American president is stable like his predecessors, I refer you to his Twitter account. He has sent 13,321 tweets with exclamation points, 864 tweets with two exclamation points, 432 with three, 146 with four and 57 with five (the last one, in August: “#WheresHillary? Sleeping!!!!!”). Trump’s single greatest exclamation in recent years — 15 points — was in 2014: “This cannot be the the [sic] Academy Awards #Oscars AWFUL!!!!!!!!!!!!!!!”

Now he’s turning his punctuation on you. Until the past couple of years, the extent of his public commentary on your country was to say he wouldn’t go. “Dennis Rodman was either drunk or on drugs (delusional) when he said I wanted to go to North Korea with him. Glad I fired him on Apprentice!” he tweeted in 2014.

But this time Trump is in a position to fire missiles, not the former Chicago Bulls forward. And he has been treating the crisis with the gravity we’ve come to expect from him. At the White House Easter Egg Roll, where he was joined by the Easter Bunny, Trump said North Korea “gotta behave” and, if not, “you’ll see.” There is still a chance that his advisers will talk him down. The most sensible one is Defense Secretary Jim Mattis. His nickname: “Mad Dog.”"


Dana Milbank, The Washington Post

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Justificação fraca

Numa das nossas saídas a propósito do festival de comédia francesa que foi exibido no MFAH, fui pela primeira vez a casa da JB, que se mudou recentemente para um apartamento. Uma das paredes da sala está inteiramente ocupada por estantes cheias de livros, muitos dos quais de culinária. Pensava eu que tinha bastantes livros de cozinha -- tenho mais de 100 --, mas a minha colecção está bem aquém da da JB. Temos poucos livros em comum, mas fiquei espantada  por um deles ser sobre comida dinamarquesa: a JB comprou o dela em Copenhaga; eu comprei o meu provavelmente em Fayetteville, AR. Nenhuma de nós tinha cozinhado nada do livro, logo sugeri fazermos um jantar com receitas da Dinamarca, dado que já tínhamos feito um com o tema da Irlanda. 

Acabei por não usar esse livro para a minha receita, preferindo selecionar uma do meu livro sobre hygge, que terminei de ler na semana passada. Escolhi almôndegas com molho de caril -- o Meik diz que aquilo é popular na Dinamarca. Se calhar, foi um pouco precipitado escolher uma receita de um fulano que não é profissional de cozinha, visto ele recomendar 2 Kg de carne picada para quatro pessoas. Ou talvez eu, que mal meço metro e meio, não perceba muito bem as necessidades calóricas dos altarrões da Dinamarca. Só fiz um Kg e, mesmo assim, demorou-me bem mais de duas horas, quando o autor dizia que levaria pouco mais de hora e meia. 

Faltava 20 minutos para a JP me vir buscar para o jantar quando entrei no duche e, apesar de ter sido rápida, ainda estava de toalha na cabeça e meia despida quando ela bateu à porta. Disse-lhe que estava atrasada e ela foi fazer tempo com os vizinhos do outro lado da rua, que lhe mostraram um vídeo do filho. A JP disse-lhes que estava à minha espera para irmos a um potluck de mulheres Democratas (isto é um grupo de mulheres que foi à Marcha das Mulheres, mais duas senhoras que não marcharam porque já têm idade avançada: 87 e 92). 

O vizinho era Republicano e disse que votou Trump porque tinha medo que lhe tirassem as armas: ele é caçador. Entretanto, saio porta fora e a JP afastou-se deles, mas ainda ouviu a esposa do vizinho dizer-lhe que era uma justificação muito fraca para votar num idiota. 

A salada de pepino com aneto estava mesmo boa. A sobremesa foi feita pela JP e ela levou uns puzzles muito giros para nós fazermos antes de comer o bolo. As peças estavam dentro de uns ovos de plástico grandes, por sua vez guardados numa embalagem de cartão de ovos, como as que compramos no super-mercado. Os puzzles tinham todos imagens de pratos de ovos, mas eram um pouco difíceis porque não tinham fotos de referência e tinham contornos irregulares: uns tinham colheres a sair do prato, outros tinham a asa da frigideira, etc. Não terminei o meu porque faltava uma peça, mas mesmo assim serviram-me sobremesa. Aqui está a prova...



sábado, 15 de abril de 2017

Ex-FCP

Este post não é enquanto adepto do Braga, mas sim como adepto do Benfica e é sobre o FCPorto.
Como qualquer pessoa com 40 anos, habituei-me a temer o Porto. Ao longo dos últimos 30 anos, fosse com que equipa fosse, o Porto não entrava em campo a pensar no mal menor.

Isto para dizer que se o FCPorto perder o campeonato perdeu-o na semana passada na Luz. O FCPorto ir à Luz com menos um ponto e ficar satisfeito com um empate não é o Porto. O FCPorto que me habituei a respeitar, depois de recuperar da desvantagem na Luz logo no início da 2ª parte e quando estava por cima do jogo, não descansava enquanto não marcasse mais um golo. Não quando tinha um ponto de desvantagem.
A alegria dos jogadores do Porto no fim do jogo com o SLBenfica é uma afronta ao Porto. Se perderem o campeonato este ano, merecem perdê-lo pela satisfação que tiveram com esse empate.

(Se vierem a ganhar o campeonato, tudo bem, não há vencedores injustos, mas espero que para o ano a atitude competitiva seja melhor.)

sexta-feira, 14 de abril de 2017

A insensibilidade* do outro António

How insensitive
I must have seemed
When she told me that she loved me To refuse to kneel to all of them
How unmoved and cold
I must have seemed
When she told me so sincerely To ignore he's a paraplegic, so completely

Why she you must have asked
Did I just turn and stare in icy silence speak something oh so stupid
What was I to say,
What can you say,
When a love affair is overWhen one might be of no honor

Now she's gone away I feel no shame
And I'm not alone
With a memory of her last look Everyone I know is a crook
Vague and drawn and sad So inept at math
I see it still I often doubt
All her heartbreak in that last look They could even read a book
How she you must have asked
Could I just turn and stare in icy silence still govern amid such ignorance?
What was I to do?
What can one do,
When a love affair is over When I'm supported with such fervor?

* Ou será insensatez?


Perder tempo

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Um exemplo a seguir...

O comunista João Oliveira acha que o Equador é um país cujo exemplo Portugal deve seguir. Fui então à Wikipédia informar-me do exemplo a seguir e de como o Presidente do Equador, Rafael Correa, gere o país:

"Taking office in January 2007, he sought to move away from Ecuador's neoliberal economic model by reducing the influence of the World Bank and International Monetary Fund. He declared Ecuador's national debt illegitimate and announced that the country would default on over $3 billion worth of bonds; he pledged to fight creditors in international courts and succeeded in reducing the price of outstanding bonds by more than 60%.[1] He oversaw the introduction of a new constitution, and was re-elected in 2009. Correa was re-elected in the 2013 general election. Ecuador was able to achieve political stability.

During Correa's presidency, he was part of the wider Latin American pink tide, a turn toward leftist governments in the region, allying himself with Hugo Chávez's Venezuela and brought Ecuador into the Bolivarian Alliance for the Americas in June 2009.[2] Using populist policies and its own form of 21st century socialism that was less radical than in Venezuela, Correa’s administration increased government spending, initially reducing poverty, raising the minimum wage and increasing the standard of living in Ecuador until 2014.[2][3][4] By the end of Correa's tenure, reliance on oil, overspending and earthquake caused Ecuador's economy to enter a recession, resulting in government spending being slashed, the layoff of thousands of public workers, as well as predictions by analysts stating that Ecuador would be left with further economic difficulties.[2][3][4][5] Eventually, some Ecuadorians had also grown disenchanted with corruption, as well as Correa's confrontational behavior with media organizations.[2][5] However, according to Transparency International, corruption decreased under Correa's government.[6]

Between 2006 and 2016, poverty decreased from 36.7% to 22.5% and annual per capita GDP growth was 1.5 percent (as compared to 0.6 percent over the prior two decades). At the same time, inequalities, as measured by the Gini index, decreased from 0.55 to 0.47."[7]

Fonte: Wikipedia

Grande exemplo: têm petróleo e moeda própria, mas conseguem ser mais corruptos, mais pobres, e com mais desigualdades sociais do que Portugal e o Presidente deles já está no poder desde 2007. Eu pensava que se devia escolher exemplos a seguir que fossem melhores do que o nosso. Afinal, o exemplo a seguir é pior. Viva a mediocridade!

Novidades na educação?

Não me tenho sentido muito bem por causa das longas ausências na DD. Afinal, fui eu que sugeri, ao iniciar a minha colaboração, que se adicionasse o tema Educação aos que já figuravam no cabeçalho – o mais interessante dos quais era (e é) “Laser Alexandrite”. Ora a verdade é que tenho falhado completamente no que pensei poder ser a minha contribuição no campo de actividade que foi, e é, o meu.

Deixando de lado possíveis razões para a parca assiduidade, relevarei hoje um tema que tem sido aflorado nos últimos tempos e que se insere na política de reversão de medidas tomadas em governos anteriores e que foi anunciada como “flexibilização curricular”.

terça-feira, 11 de abril de 2017

Era um álbunzito, sff

Já que estamos nos bens e serviços pedidos, gostaria que editassem livros-áudio de poesia e que os disponibilizassem no iTunes americano para eu comprar. Gracias...

P.S. A sério que meti isto no Instagram ontem!


O mercado da saudade

Portugal é um dos países do mundo com maior percentagem de nacionais a viver no estrangeiro. A coisa é de tal modo exagerada que mesmo quando são considerados números absolutos, a quantidade de emigrantes portugueses a viver em alguns países europeus compara com o número de emigrantes de outros países muito maiores, como Espanha ou Itália. Como toda a gente sabe, e há pouco a acrescentar, a nova vaga de emigração é, grosso modo, altamente qualificada e tem um poder de compra elevado.

Há várias formas de tomar proveito deste fenómeno. O chamado "mercado da saudade", que escoa quantidades surpreendentes de produtos alimentares através das mercearias e restaurantes das comunidades portuguesas no estrangeiro, é um excelente exemplo disso. Ora, se há várias formas de aproveitar o fenómeno, há apenas uma, repetida inúmeras vezes, de o ignorar por completo. Já nem vou falar na falta de atenção que algumas instituições públicas votam aos emigrantes, que tem nos consulados a face mais visível. Mesmo os privados ignoram muitas vezes o filão de consumidores ao seu dispor.

Tenho dois exemplos com que me confronto regularmente, em ambos os casos de setores ditos em decadência, em que os seus intervenientes se queixam amiúde de fazerem cada vez menos dinheiro.

O primeiro é o mercado do livro em Portugal. Um setor particular, altamente protegido, que merecia um post por direito próprio. Este setor protegido mas decadente tem agora ao seu dispor uma geração de centenas de milhares de emigrantes qualificados, e dá-se ao luxo de o ignorar por completo. O principal site de venda de livros, a wook, cobra quase 12 euros para enviar um livro para Inglaterra. Ora isto, enquanto estratégia comercial, parece-me só muito, muito, muito pouco inteligente. 

O segundo é o mercado dos conteúdos televisivos. Os principais canais de televisão portugueses têm plataformas que permitem ver episódios dos seus programas online. A primeira crítica que faço é que, muitas vezes, os gestores das plataformas levam demasiado tempo a pôr disponíveis os episódios mais recentes. A outra crítica que faço é que as próprias plataformas beneficiariam de ser atualizadas. Nenhuma delas tem integração com o Google Chromecast, algo que seria tão fácil de fazer. O Google Chomecast, que eu e vários milhões de pessoas usam, permite transmitir no ecrã da televisão os episódios das plataformas de vídeos online. O youtube, por exemplo, faz isso. 

Vá, mexam-se. 

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Modas...

A Economia Keynesiana está na moda, escreve o Noah Smith. Para ser adequado implementar o que chamam de Economia Keynesiana -- diminuição de impostos, aumento de gastos públicos -- tem de existir uma falha na procura agregada e a economia não pode estar próximo do pleno emprego ou até em pleno emprego; esses detalhes são frequentemente ignorados.

A economia americana está perto do pleno emprego. Repare-se que a Reserva Federal começou a contrair a política monetária há três anos e a taxa de desemprego não aumentou, logo não é evidente que a economia esteja em recessão, necessitada de estímulo fiscal; mas quando se tem apenas um martelo, tudo parece um prego.

A participação dos trabalhadores no mercado de trabalho está baixa, mas a longevidade dos americanos está em alta por enquanto; as gerações mais jovens já têm esperanças médias de vida mais curtas. O número de anos que se frequenta a escola também, especialmente porque, por causa da Grande Recessão, muitas pessoas regressaram à universidade para estudar. Havendo mais americanos reformados e um maior número de estudantes, o pressuposto ceteris paribus é violado e torna-se difícil comparar os dados actuais de participação no mercado de trabalho com os de gerações anteriores.

No entanto, há sub-emprego e desemprego local, mas o que também há é um nível de mobilidade da força laboral que está a mínimos históricos, uma tendência que se agrava há décadas, apesar de haver muitas empresas que não conseguem encontrar trabalhadores que queiram trabalhar (ler o livro The Hillbilly Elegy, por exemplo), quanto mais pessoas qualificadas para trabalhar -- fala-se em skills gap: um desencontro entre as qualificações que a economia precisa e as qualificações dos trabalhadores.

Este desencontro tornar-se-á mais pronunciado durante a próxima recessão que, muito provavelmente, se irá dever a mudanças estruturais causadas pela Internet. O sector de vendas a retalho americano está prestes a entrar em colapso; atrás dele cairá o imobiliário comercial. Este ano, quase todas as semanas, há uma cadeia comercial a fechar lojas ou a entrar em falência. (O sector automóvel também está fraco; falar-vos-ei disso noutro dia.)

O rácio de área comercial per capita nos EUA é alto, quando comparado com outros países (EUA: 7,3 metros quadrados; Japão e França: 0,16; Reino Unido: 0,12), fruto da expansão que ocorreu antes de e durante a Grande Recessão. Só que, entretanto apareceu o Pinterest, o Instagram, os blogues dos influenciadores, o Like to Know It, as empresas chinesas que vendem directamente pela Internet via eBay ou publicidade no Facebook (muitos casos são fraudulentos), a Amazon, que foi a grande responsável por esta revolução, etc.

Nos acessórios e nas roupas, não é preciso comprar tudo por causa da chamada economia de partilha (share economy): pode-se alugar (e.g., Rent the Runway, Bag Borrow or Steal), existindo mesmo serviços em que nós damos o nosso número, o nosso estilo, e alguém faz toilettes e envia para nossa casa em troca de uma mensalidade, quando nos fartamos mandamos de volta. Outra tendência crescente é o minimalismo, que tem um documentário, e também tem influenciadores, como aquela senhora que durante três meses apenas usou 33 peças de roupa e acessórios para fazer as suas toilettes de trabalho e ninguém topou (ver projecto 333).

Mesmo a área da mercearia e hortaliças está diferente. Há empresas que entregam os ingredientes para fazer refeições directamente em nossa casa, já acompanhados da receita (ver Blue Apron, Hello Chef, etc.). As mercearias tradicionais começaram a fazer entregas ao domicílio e algumas oferecem compras via Internet que se vão buscar à loja empacotadas pelos empregados. Em Portugal, o Continente já fazia entregas ao domicílio há mais de 10 anos; as modas nos EUA por vezes demoram a instalar-se, mas quando se instalam costumam ter um carácter mais compulsivo e destruidor.

Este ano será, no mínimo, interessante.

A vingança da verdade

 Hobbes acaba o seu Leviatã defendendo que “uma verdade que não se opõe a nenhum interesse ou prazer recebe bom acolhimento de todos os homens.” Trata-se de uma afirmação evidente. Todavia, fora as verdades matemáticas ou racionais, não existe nenhuma verdade que seja bem acolhida por todos os homens. Hobbes não ignorava essa evidência e adverte mesmo que até os livros de geometria seriam lançados à fogueira se a igualdade entre os três ângulos de um triângulo e os dois ângulos de um quadrado fosse contrária “ao direito de um homem à dominação ou ao interesse dos homens que detêm a dominação”. Aquele que diz uma “verdade de facto” corre um risco quando essa verdade vai contra os interesses ou prazeres dos que têm os meios para punir. O risco aumenta quando é o próprio povo que não quer ouvir a verdade e prefere os “não-factos” ou “factos alternativos” que encaixam melhor numa narrativa cor-de-rosa.
Como relembra Hannah Arendt num pequeno ensaio intitulado Verdade e política, publicado em 1968, as relações entre a política e a verdade são bastante más e ninguém “contou alguma vez a boa fé no número das virtudes políticas”. Regra geral, o mentiroso é mais convincente do que aquele que diz a verdade. A verdade constrange (porque é o que é) e o mentiroso, ao invés, é livre de acomodar os seus «factos» ao seu benefício e prazer ou às simples esperanças do público. O mentiroso terá inclusive “a verosimilhança do seu lado; a sua exposição parecerá mais lógica, por assim dizer, pois que o elemento surpresa – um dos traços mais importantes de todos os acontecimentos – desapareceu providencialmente.”

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Um helicóptero, dois helicópteros...

Ontem e hoje notei que havia uns helicópteros a passear pelo ar. Ontem, eram quatro que sobrevoavam uma das circulares de Houston e iam de um lado para o outro. Hoje de manhã, eram apenas dois, que sobrevoavam a área ao pé de minha casa enquanto eu passeava o Choppinho. Estes helicópteros por cima de minha casa causaram-me um certo pânico, pois, pensava eu, e se alguém dispara por acidente -- toda a gente no Texas tem uma arma menos eu -- ou caem em cima de mim? Vocês ficariam orfãos das minhas patetices e o mundo ficaria bem mais pobre.

Choques financeiros pessoais

A Bloomberg tem uma pequena notícia acerca de um estudo do JPMorgan Chase Institute acerca de choques financeiros pessoais, como despesas médicas não planeadas, arranjos de carros, perda de emprego. A conclusão é que muitas pessoas não estão preparadas para estes choques, especialmente se tiverem uma natureza persistente. Mesmo quem ganha um bom salário precisa de uma almofada de protecção -- activos líquidos -- significativa. As despesas da saúde são um dos maiores riscos aos quais os americanos estão expostos.

The greatest amount turned out to be a $5,300 monthly variation, for households of people between the ages of 35 and 54 with household income above $104,600. The $5,300 is the cash that household would need to have on hand if its income declined by 30 percent and its spending increased by 30 percent in the same month.

[...]

"Health care, auto expenses, and taxes were often behind the spikes the analysts found in spending data. The report notes that "four in 10 families make an extraordinary payment of roughly $1,500 related to medical services, auto repair, or taxes in a given year." The money for that may come from tax refunds: The think tank found that April is when medical bills were paid most frequently.

To judge whether the various households had the liquid assets to cover their fluctuations, the think tank used data from the U.S. census (which don't match up perfectly with its own age and income ranges). One conclusion: The $5,300 wouldn't be a big issue for the households with income above $104,600.

The institute also measured for an even worse storm, to see if households had liquid assets to meet the challenges posed by the 90 percentile of "adverse income and spending fluctuations" measured. The high-earning households could meet that demand, too, but they'd be covering that extreme exposure by a thin margin. The cash cushion needed was $13,800; the liquid assets on hand, $13,500."

[...]

Paying big medical bills had a lasting impact on financial stability. Many families have to turn to credit card debt to cover big medical payments. "A year after the extraordinary medical payment families still have 9 percent more revolving credit card debt and 2 percent lower cash reserves than baseline levels," according to the report.


Fonte: Bloomberg

Geme para mim...

[Chorus]
I'm so addicted to
All the things you do
When you're going down on me
In between the sheets
Oh the sound you make
With every breath you take
It's not like anything
When you're loving me

[Verse 1]
Oh girl let's take it slow
So as for you, well, you know where to go
I want to take my love and hate you till the end
It's not like you to turn away
From all the bullshit I can't take
It's not like me to walk away


~ "Addicted", Saving Abel

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Call for papers 5

 Abstract: Pretendo nesta comunicação encontrar o meu eu.

Imigração neoliberal

Em 1971, os EUA tiveram o seu primeiro défice comercial no século XX. As industrias japonesas e europeias haviam recuperado e passaram a concorrer directamente com os americanos em sectores como o aço e os têxteis. A seguir, viria o choque petrolífero de 1973. Era a machadada final no liberalismo do new deal, iniciado nos anos 30 na administração de Roosevelt, e que durante cerca de 40 anos constituiu o consenso dominante no establishment americano. Os anos 70 foram marcados pela estagflação (estagnação + inflação). As receitas keynesianas da procura deixaram de funcionar. A solução parecia passar agora por uma “economia pelo lado da oferta”, assim inicialmente designada, e posteriormente cunhada de “neoliberalismo” por politólogos americanos de esquerda. Este novo consenso, que se estava então a desenhar, nasceu no seio dos republicanos, onde os grupos de negócios encontraram sempre maior acolhimento. Com o tempo, os democratas foram interiorizando e aplicando as novas regras. Desregulação financeira, liberalização das leis do trabalho, enfraquecimento dos sindicatos, acordos de comércio livre, imigração legal e ilegal. Basta pensar que na maioria das eleições presidenciais americanas das últimas décadas as diferenças entre republicanos e democratas residiram apenas em questões como o aborto, o controlo das armas, impostos mais ou menos progressivos, mais ou menos despesas sociais, e pouco mais. Reagan, recorrendo a uma metáfora de Kennedy, dizia que “uma maré cheia erguerá todos os barcos”. Na Europa, a partir dos anos 80, com Thatcher, foram dados passos no mesmo sentido. A inflação elevada e o crescimento anémico pareciam não deixar alternativas. A inversão de política de Mitterrand a partir de 1982 foi tão ou mais decisiva na viragem europeia do que as políticas de Thatcher. O consenso social-democrata do pós-guerra, partilhado, por essa Europa fora, pelos partidos do centro-direita e centro-esquerda, começou a desmoronar-se.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Portugal out

Estou chateada com a Autoridade Tributária, mas isso não é novidade pois eu já estava antes. Agora tenho nova dose de razões pela qual me chatear. Há semana e meia recebi correspondência do meu procurador fiscal, pois alguém na Repartição de Finanças que trata da minha declaração do IRS decidiu que havia um problema com a declaração de 2013. Diz que eu disse que tinha um prédio recuperado e faltava uma declaração da Câmara Municipal a explicar a recuperação.

Ora eu não tenho prédio recuperado nenhum, mas fui ver do que se tratava e é o quadro 5 do formulário F. Eu não devia preencher esse quadro porque não tenho prédio recuperado, mas se eu não preencho esse quadro, o software não aceita a minha declaração. Não percebo o quadro, não percebo a pergunta ("Opta pelo englobamento dos rendimentos relativos a estes imóveis?"), mas respondo que sim porque faz-me uma pergunta referente aos rendimentos declarados e tenho de dar uma resposta, pois se eu não der, não consigo entregar a coisa. Agora alguém decidiu andar a ver o IRS de 2013 em 2017, quando em 2014, na altura de eu submeter a coisa e de me pedirem o dinheiro do IRS, ninguém acusou problema nenhum.

Enviei um e-mail à dita Repartição de Finanças e não obtive resposta, mas porque o seguro morreu de velho, enviei uma outra mensagem ao e-balcão no Portal das Finanças a perguntar o que fazer. Mandaram-me submeter uma declaração de substituição para esse ano e para os anos em que fiz o mesmo erro. Depois de andar às voltas com o Java, lá consegui abrir a secção onde se submetem declarações de substituição, só que, quando eu selecciono 2013, não aparece a opção de seleccionar a declaração de 2013, mas sim a de 2014. Tentei também outros anos a ver se consigo não responder ao quadro marado, mas não me deixam.

Estou farta da bur(r)ocracia portuguesa e estou farta da Autoridade Tributária. Querem que os portugueses que estão fora e as empresas sediadas no estrangeiro voltem para Portugal para quê? Para se sujeitarem a estas patetices? Tenham vergonha. Gerem mal o país e ainda antagonizam os cidadãos.

Ah, falta a cereja no topo do bolo! A cereja é o Primeiro Ministro a fazer discursos a dizer que só aceita uma Europa a várias velocidades se estiver no pelotão da frente. Alguém diga ao nosso ilustre Primeiro Ministro, que deixe de dizer coisas estúpidas. Quem garante que Portugal fica no pelotão da frente é a competência do governo, não é a União Europeia. Se o governo é incompetente, é lógico que o país não reúne condições para estar no pelotão da frente.

Pobretes, mas alegretes

Hoje, de uma ponta à outra de Portugal, as câmaras municipais transformaram-se em organizações de eventos. Feira do chouriço ou da alheira, feira medieval ou tecnológica, feira da agricultura ou do turismo, feira de produtos tradicionais ou do futuro, Natal, passagem de ano, o Calvário de Cristo (palavra de honra), o diabo a quatro, tudo serve de pretexto para mais um “evento”. Algumas almas mais avisadas perguntarão se não haverá maneiras mais inteligentes de os nossos autarcas espatifarem o nosso dinheiro. Com certeza que sim, mas isso dá muito mais trabalho e não dá tanto nas vistas como o foguetório. Entretanto, o povo "diverte-se", os autarcas mostram “obra”, alguém se farta de ganhar dinheiro e o contribuinte, como de costume, paga a conta e apanha as canas. Não temos emenda.