sábado, 6 de agosto de 2016

Os cinquenta anos da ponte

Faz hoje cinquenta anos estava na Parede, “a banhos” (estou a recuperar uma forma caída em desuso, creio, mas muito vulgar nesses tempos quando se queria significar férias na praia). A Parede foi, e é, uma localidade celebrada justamente pelo alto teor de iodo, benéfico para a saúde dos ossos.


Recordo-me perfeitamente do dia da inauguração da ponte que, nessa altura, foi baptizada como ponte Salazar, e mais tarde rebaptizada como ponte 25 de Abril. Não fui, como tantos outros, tentado a ser dos primeiros a passar a ponte – no primeiro dia não houve lugar a qualquer pagamento – mas, ao principio da noite, não resisti a avançar na marginal até que tivesse uma visão global da nova estrutura, iluminada, o que de facto aconteceu. A cidade ganhara uma imagem adicional indiscutivelmente agradável. Só bastante mais tarde fiz a minha primeira passagem em direcção ao sul.

A ponte sobre o Tejo era uma velha aspiração. Hoje é difícil imaginar a nossa vida sem ela: quantas vezes se punha o problema de ir para o sul, dando a volta por Vila Franca de Xira, ou sujeitar-nos às filas para atravessar o rio no ferry para Cacilhas? O desenvolvimento das localidades a sul de Lisboa (e que eu conheço bem: nasci na Cova da Piedade e vivi dez anos no Seixal) deve-se à ponte, ainda que ela se tenha tornado, ao longo dos anos e mesmo depois da abertura da ponte Vasco da Gama, que pouco tráfego tirou à ponte 25 de Abril, uma dor de cabeça para quem tem de a atravessar todos os dias.


Leio hoje no Expresso (“25 de Abril para sempre?”) que a ponte será eterna, dada a solidez da sua construção. Eterna? Provavelmente não… mas que foi uma obra de grande qualidade, isso é inegável.

3 comentários:

  1. Eu também me lembro perfeitamente desse dia: estava, imobilizada, no antigo Hospital do Ultramar (actual Egas Moniz) e puxaram a minha cama para a frente da janela para assistir ao fogo de artifício da inauguração. Aliás, guardei durante muito tempo na caixa de sapatos onde acumulava os meus tesouros um recuerdo dessa inauguração, que me foi oferecido por um primo do "Gabinete da Ponte": uma daquelas esferográficas com um objecto dentro dum líquido que se deslocava à medida que se inclinava para um lado ou para o outro; neste caso um paquete a passar por debaixo da Ponte sobre o Tejo...

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  2. Caro Cândido Varela de Freitas, estimo muito ler este seu post. Aliás, do pouco que tenho lido seu (acho que apenas um outro post aquando do aniversário abrileiro) faria gosto em lê-lo mais.

    Adiante! Faço este comentário para dar uma achega, principalmente ao seu último parágrafo. A Ponte Salazar foi, sem dúvida, um grande feito de engenharia, de várias disciplinas da engenharia, mormente se posta no contexto da época. O que pouca gente sabe é que foi também um grande feito em termos de estudo e planeamento. Foi a última grande obra pública em Portugal que foi estudada, dimensionada e avaliada recorrendo ao que de melhor a técnica tem (tinha, nessa altura, que está longe do conhecimento actual neste domínio) para oferecer até ao projecto da Alta Velocidade. Entre a construção da ponte e o início do projecto de Alta Velocidade nenhuma das grande obras públicas de transportes em Portugal foi devidamente estudada e avaliada como esta. Este aspecto tem enorme importância porquanto, à época, não havia ninguém em Portugal com conhecimentos do que, posteriormente, veio a chamar-se engenharia de transportes. Engenheiros do ramo de civil tiveram que ir ao estrangeiro (Inglaterra, principalmente) aprender do zero o necessário para conduzir este estudo e desempenharam-se da sua tarefa de forma impecavel. A atestar esta perfeição está que todas as previsões de tráfego, receitas e dispêndios feitas então estiveram plenamente certas até 1975. Daí em diante os eventos políticos furaram tudo, evidentemente.

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    1. Quem me ofereceu a esferográfica foi precisamente o Eng. Canto Moniz.

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