quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Contos zen para crianças boas 122


No dia em que partiu uma perna, a cigarra percebeu que tinha que mudar de vida. A vida da cigarra que partiu a perna, como a vida das outras cigarras, era andar pelos formigueiros a pregar as virtudes da indolência e foi quando tentava equilibrar-se no topo de um formigueiro que a cigarra escorregou numa casca de cebola acabada de chegar transportada pelo batalhão número quatro das formigas do turno do almoço e depositada no chão para processamento. Com a perna partida, a cigarra arrastou-se para longe do formigueiro, não fossem as formigas do piquete de processamento confundi-la com a casca de cebola, e sentou-se debaixo de um cogumelo a ponderar as suas opções profissionais. Como uma cigarra não é uma formiga, várias opções estão-lhe vedadas à partida, pois o modo de ser das cigarras não é compatível com uma vida industrial. E como uma cigarra não é um sapo, que passa o seu tempo deitado num nenúfar com ar sério, a vida especulativa também não combina com ela. Concluindo a cigarra que a indolência é o que faz dela uma cigarra, decidiu simplesmente praticá-la o mais longe possível de formigueiros e nenúfares.

2 comentários:

  1. Se fosse eu a dizer este conto (pois não teria capacidade para o inventar), trocava o sapo por uma rã. É que os sapos, às vezes, são muito grandes e avessos a charcos e lagos. Só isso. Manteria tudo o resto, que achei encantador.

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    1. Tem toda a razão, devia ser uma rã e não um sapo. Mas escrevi isto num dia em que encontrei um sapo no jardim, e nem me lembrei que as rãs é que costumam estar em cima de nenúfares. Não é grande desculpa, mas é uma cortesia para com o sapo. Obrigada por ter gostado!

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