quarta-feira, 15 de julho de 2015

Relatividade e preguiça

Não sei se ouviram, mas Jeb Bush meteu o pé na argola. Jeb Bush é o irmão de George e o terceiro Bush a candidatar-se à presidência dos EUA. Sugeriu ele que, para os EUA crescerem a 4% ao ano (Ora, digam lá se ele não é um candidato presidencial ambicioso?), os americanos deveriam trabalhar mais horas.

As pessoas ficaram ofendidas porque os americanos já trabalham muitas horas. Depois ele clarificou, dizendo que queria dizer que os americanos que trabalham a horário parcial deviam trabalhar mais horas. Presume ele que quem trabalha a horário parcial preferia trabalhar a tempo inteiro; se não têm esta preferência são preguiçosos. Nestas discussões, o que se segue é a óbvia constatação de que o trabalho paga impostos mas o tempo de lazer não, logo a solução é reduzir os impostos sobre o trabalho, especialmente sobre o trabalho dos mais ricos, que pagam taxas de impostos mais altas porque também ganham mais dinheiro.

Como eu já estive desempregada involuntariamente várias vezes--a crise financeira foi um "óptimo" exercício de resistência emocional e financeira--, acho esta discussão interessante, mas um bocado aérea. Sim, o trabalho paga impostos e o lazer não, mas o lazer tem o custo de usarmos as nossas poupanças, mais vários custos de oportunidade, como o salário que se prescinde porque não se trabalha e os juros que prescindimos porque temos de usar as nossas poupanças.

Os desempregados involuntários, quando têm direito, têm um seguro de desemprego muito baixo e não dá para ter o nível de vida de um salário normal; para além disso só dura no máximo seis meses (durante a crise financeira, houve extensões). Ainda por cima, sem emprego não há seguro de saúde; tem de se comprar com o nosso próprio dinheiro e agora é obrigatório ter ou então pagamos uma multa. (Mesmo com emprego, nem todas as companhias oferecem seguro de saúde.)

As férias de trabalho normais nos EUA são 10 dias, i.e. duas semanas, mas há companhias que dão um pouco mais ou aumentam o número de dias de férias com o número de anos que se trabalha para a empresa. Note-se que os americanos têm mais feriados do que os portugueses, mas a lei não obriga a que sejam pagos, depende do acordo entre trabalhador e patrão.

Quando eu conto aos meus amigos em Portugal o que é trabalhar nos EUA, toda a gente fica horrorizada, mas gostam dos salários. Quando eu conto aos americanos como é trabalhar em Portugal, os americanos ficam horrorizados com tanto lazer e regalias, e detestam o salário.

Os americanos acham os europeus pessoas muito preguiçosas, pouco ambiciosas, e paparicadas pelo estado. É mais ou menos a ideia que os europeus têm dos gregos.

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