terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O preço do petróleo

Hoje, a Delta Airlines anunciou resultados trimestrais que surpreenderam o mercado pela positiva. Mas este ano não vai ser tão bom como poderia ser. A perspectiva que a Delta Airlines tinha era uma de subida de preços de energia e, como tal, as suas estratégias de hedging eram baseadas em posições longas. Como os preços de petróleo desceram, a companhia acabou com contractos que a comprometem a pagar um preço significativamente mais alto do que o preço spot. Presume-se que os custos desta estratégia ascenderão a mais de US$1,3 mil milhões. Ao ouvir a notícia, fiquei curiosa acerca da estratégia de hedging usada pela TAP. Se houver um jornalista curioso, este tópico seria bastante interessante.

Ao contrário do que as pessoas pensam, o aumento de produção de petróleo não aconteceu de um dia para o outro. O investimento na tecnologia de extracção de energia de xisto começou a ser apoiada pela administração Bush (pai). Já há cerca de ano e meio, era visível que os EUA estavam posicionados para ter petróleo barato, pois o petróleo era tanto que o aumento do transporte ferroviário aumentou 400%, e até havia dificuldade em encontrar sítios para armazenar tanto produto. Quem prestasse atenção aos relatórios da Energy Information Administration veria que as expectativas que o mercado tinha estavam a divergir da informação fundamental do mercado, logo era inevitável uma eventual correcção nos preços.

Mas não foi só o lado da oferta que depreciou os preços. Durante a recessão, houve várias mudanças no comportamento dos consumidores americanos: o tamanho dos carros diminuiu e a eficiência energética aumentou, há menos jovens a comprar carro, a distância de comuta para o trabalho encurtou, e os consumidores estão hoje em dia mais atentos aos seus gastos com gasolina e gasóleo. Isto também era visível há mais de ano e meio.

A única surpresa que se verifica agora é o comportamento da Arábia Saudita. Tradicionalmente, a OPEC reage a uma descida de preços com uma diminuição da produção, mas como quase todos membros não são muito disciplinados, acabam por não cumprir o que prometem. A Arábia Saudita é o membro que faz o ajustamento e reduz a produção, absorvendo assim o choque e suportando os custos da estratégia. Desta vez, os Saudis surpreenderam o mercado por não cortarem a sua produção. O objectivo é mesmo levar a que alguns produtores de petróleo nos EUA vão à falência. Este ajustamento ainda está em curso.

Sabemos que, a curto prazo, os produtores americanos poderão suportar algumas perdas; mas, no longo prazo, os custos fixos terão de ser cobertos para que as empresas continuem em operação. Por outro lado, o que diferencia a tecnologia de extracção em xisto é o facto de ser muito barato mudar de local. Isto implica que quem tem acesso a mais terra, pode procurar os sítios onde os custos de extracção sejam mais baratos. Já a tecnologia tradicional de usar poços de petróleo não tem tanta mobilidade. Ou seja, é natural que o mix de tecnologia mude: haja mais produtores que usam poços a ir à falência do que produtores que usam fracturação hidráulica.

Também devemos ter em atenção os custos ambientais. A extracção em xisto é intensiva no uso de água, causa tremores de terra, e poluição. Ainda não é claro quais os custos totais da tecnologia para o ambiente e para a saúde pública, mas o estado de Nova Iorque já anunciou que vai banir o fracturação hidráulica.

Entretanto, os americanos já semearam as sementes para a seguinte revolução energética. Durante a recessão, investiram fortemente em energias alternativas. Daqui a cerca de 20 anos, os EUA estarão mais uma vez posicionados para colher esses frutos.

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