terça-feira, 1 de abril de 2014

Eles sabem o que assinaram? (II)

Outro aspecto muito interessante da não-resposta de Pedro Lains é que indicia que muitos dos que assinaram o Manifesto não o leram ou não o perceberam. Por que digo isto? Muito simples. A resposta à pergunta sobre se o Manifesto defende a reestruturação da dívida não troikana só pode ser uma e é sim. No Manifesto, esta ideia está destacada a bold e serve de título a uma subsecção. Passo a citar:


Ou seja, é para reestruturar, pelo menos, a divida acima de 60% do PIB. Dado que a dívida acima dos 60% do PIB é superior à divida à troika então, obrigatoriamente, o Manifesto pede que se reestruture dívida para além da que é detida pela troika. Não percebo muito bem como é possível ser mais claro do que isto. Que quem subscreve o manifesto não assuma isto mostra que, entretanto, percebeu o disparate do que exige ou então que não compreendeu o que assinou.

Perante estes e outros argumentos os subscritores preferem fazer de conta que todas as críticas ao manifesto apenas se centram em ataques ad hominem. Tal é, obviamente, mentira. Sendo certo que houve vários ataques aos mensageiros, também é verdade que houve muitas críticas que apenas se centraram na mensagem (e no seu timing). E esses não mereceram qualquer resposta, com excepção, que eu tenha dado conta, de um pequeníssimo apontamento de Paulo Trigo Pereira num artigo do Público. Voltarei a isso numa próxima entrada.

14 comentários:

  1. Caro LA-C,

    Uma pergunta relevante para esta discussão e para a qual ainda não encontrei resposta: existe alguma lista de detentores de dívida pública (de preferência ordenada por senioridade das tranches)? Quando se diz que "x" é da Troika, admito que seja fácil de saber (dinheiro emprestado / totalidade da dívida) mas e o resto?

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    1. Vou tentar informar-me e depois digo qualquer coisa.

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    2. O BdP tem esses dados. Capítulo K.1.3. http://www.bportugal.pt/pt-PT/Estatisticas/PublicacoesEstatisticas/BolEstatistico/Paginas/BoletimEstatistico.aspx

      (Para extrair o financiamento oficial do total do financiamento externo, basta cruzar os dados com os do IGCP: http://www.igcp.pt/fotos/editor2/2014/Boletim_Mensal/03_BM_mar.pdf )

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    3. Muito obrigado Pedro Romano,

      Alguns números interessantes:

      Dívida total % PIB (PIB 2013 / dívida Dez 2013): 102% (?!? O Boletim do BdP indica um valor de dívida pública não-financeira de 272 967 M Eur - onde estão os restantes 30% do PIB de dívida?)

      % da dívida pública detida externamente: 58% (160 394 M Eur / 97% do PIB)
      % da dívida detida pela Troika: 26,5% (72 445 M Eur / 43,7% do PIB)
      % da dívida detida pelos bancos nacionais: 27% (74 745 M Eur / 28% do PIB)
      % da dívida detida pelo próprio Estado: 17,3% (47 647 M Eur / 28,8% do PIB)

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    4. Onde foi buscar os 102%? O K.1.3. (linha 92, coluna B) dá um valor de 256.000 milhões de euros, que é cerca de 155% do PIB. Este valor difere dos valores oficiais porque integra dívida que é detida pelo próprio Estado. Para obter os valores oficiais, há que extrair à coluna B o valor da coluna C («Dívida das Administrações Públicas financiada por Administrações Públicas»).

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    5. Porra, enganei-me nas contas... troquei um 1 por um 2 (i.e. considerei o PIB de 266 mil milhões e não 166 mil milhões...). Obrigado pel chamada de atenção (que deu para "localizar" o erro).



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  2. Estou em crer que o caro Aguiar Conraria quer discutir epistemologia com quem quer discutir bola!! Como todos sabemos é muitíssimo mais complexo discutir a bola do que as simplificações da epistemologia! A táctica então, é dos objectos de estudo mais refinados!

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  3. Estas distrações acontecem aos melhores, mas é mesmo muito mau quando se quer também "SALVAR A NAÇÃO".

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  4. Em bom rigor, o que deveria estar argumentado é que "a dívida acima dos 60% do PIB é superior à divida à troika", e não que "a dívida à troika é inferior a 60% do PIB", certo?

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  5. Caro LA-C,

    Sem querer entrar em muitas suposições, será que a ideia dos 60% acima do PIB não passaria pelo "off-loading" da dívida detida pelos bancos (com parte de um processo de saneamento bancário, com mutualização da dívida soberana europeia detida pelos bancos)? Se somarmos dívida detida pelos bancos e pela troika (e "reestruturamos" essa), o restante é, de facto, inferior a 60%.

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    1. Tudo o que seja mutualização da dívida, bem como serem os outros a pagar a nossa dívida, tem o meu acordo.
      Aliás, se quiserem substituir a nossa dívida por perpetuidades de cupão zero, ou seja (nunca a pagamos), como sugerido por PTP no P&C, tem também o meu acordo.

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    2. Eu não estou a concordar ou discordar, estou a tentar racionalizar COMO reestruturariam acima dos 60%.

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